Foto cedida pela família |
No exato momento da última sílaba, a sala era preenchida com
um silêncio arrebatador. Era como se fôssemos lançados num templo, num ambiente
sagrado. Nenhum barulho ousava sair de nossas bocas até o sino estridente do intervalo, que fazia aflorar novamente os demônios de todos nós moleques.
Ele escrevia na lousa, copiávamos. Ditava, anotávamos.
Falava, ouvíamos. Levantava os olhos, estremecíamos. O bater de asas de
mosquitos é um eufemismo na maioria dos casos, menos na sala do Professor
Toledo. Garanto. Sua respiração por si já era tão devastadora, que um sermão por uma
distração, um caderno incompleto, ou um deslize no comportamento se convertia ou
em lágrimas, caso o infante fosse de uma força psicológica extrema, ou em soluços que
se ouve em exéquias, caso fosse uma pessoa normal.
Eram quatro cadernos devidamente encapados, identificados e empilhados sobre a carteira, sempre à disposição para vistoria relâmpago! Gramática, ortografia, redação e exercícios. Santo Deus! Como roguei para que aqueles passos que vinham em minha direção fossem para a carteira da frente, ou de trás, a do lado, qualquer uma menos a minha! (menos da Bárbara também) Foi por causa de uma dessas que hoje sei que eu sou uma pessoa normal.
Ele não era assustador, mas assustadoramente inspirador. Com sua meticulosidade e responsabilidade via em cada aluno um compromisso, um desafio, ou uma missão, conforme o aluno, é claro. Ele era o professor que provocava a necessidade no aluno de ser bom, de ser correto, de fazer o certo. O suposto medo de “punição” era na verdade o medo de decepcionar quem merecia apenas o melhor de você.
Naquele ano, nas vésperas do dia das mães, mais que uma aula de português, Professor Toledo nos deu uma aula de vida. Aula de sua vida. Sua história desde a pobre infância floreada em suas bem cadenciadas palavras. História da sua gratidão pelo esforço da mãe humilde que construiu aquele senhor do qual éramos testemunhas de hombridade. Uma história de emoção que faz valer a pena a própria vida. Pouco a pouco, todos os jovens ouvintes se entregaram aos mais sinceros prantos dos quais me recordo com olhos marejados e voz embargada se houvesse de falar enquanto escrevo isso.
Naquele mesmo ano, Professor Toledo se juntou à sua mãe e
Santa Maria no céu que pertence às boas almas dos professores. Hoje, a memória
do Professor Toledo é para mim uma oração ouvida no silêncio de uma sala de aula vazia,
ou no burburinho dos alunos toda vez que passava pela porta de uma sala de aula.
Milhares são os juizforanos que receberam o legado do Professor Toledo. Herança moral de um homem que viveu a missão de ensinar com a mais alta dignidade que já se teve notícia. Juiz de Fora tem uma dívida moral com esse professor, esse
sim, um merecedor de seu nome marcado nas pedras dessa cidade.
Linda e merecida homenagem para o professor Toledo. Com certeza ele fez a diferença nas nossas vidas. Elizabeth
ResponderExcluirTinha lá meus 16 anos de imaturidade qdo durante sua aula um colega ao lado fez uma palhaçada que me causou alguna sussuros baixíssimos de riso. O.prof passava na fileira ao lado e eu não percebi. Foi quando ele veio em minha direção e me aplicou um tapa. Minha imaturidade da ocasião se revoltou, mas a experiência de vida atual da minha "era dos 50" se tornou eternamente grato por essa atitude. Graças a ele pudw herdar os maiores valores da vida como amor ao próximo, solidariedade, dignidade, ética.
ResponderExcluirMuito obrigado papai.
ExcluirRealmente muito comovente.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAo ler estas palavras, chorei. Chorei de saudade, de orgulho, de. Meu pai, meu ídolo, meu meu exemplo de vida. Aprendi com ele o significado de honra, dignidade, honestidade, humildade, solidariedade, fé, esperança, persistência. Pai você você faz ideia da falta que nos faz.
ResponderExcluirSou abençoada por ser sua filha.
Nilton Azambuja de Loreto muito obrigada, sua mensagem acariciou a minha alma.
Deus o abençoe.
Gostaria muito de conhecê-lo.
Maria Cristina Toledo de Miranda
Ps.: Publicado a pedido da minha mãe, pois ela não estava conseguindo.
Fico muito feliz e comovido com seu comentário. Meu muito obrigado e grande abraço para toda a família!
ExcluirQuem sabe, logo tomaremos um cafezinho.
Com certeza! Cafezinho marcado, após corona vírus.
ExcluirMaria Cristina Toledo de Miranda
Nossa, quanta saudade! Fui sua aluna do sexto ao oitavo ano no Machado Sobrinho, tivemos aula de latim, e foi aí que aprendi português de verdade! Até hoje me lembro das margens dos cadernos com páginas numeradas... O respeito quando o Professor Toledo entrava na sala de aula, e hoje, eu, como professora e escritora/poeta, devo à ele esta paixão pela língua portuguesa! Obrigada Nilton por nos trazer tão viva lembrança!
ResponderExcluirQue linda homenagem!!!!
ResponderExcluirEu era " peixinho" do professor Toledo! Assim me chamavam por ser a aluna que entrava na sala dos professores e tinha a liberdade de abrir seu escaninho para pegar os diários e os livros com a responsabilidade de colocá -los em cima da mesa da sala, no início da aula.
Ele era bravo, mas tb chegava em sala com as mãos cheias de bala e as distribuia! Quem lembra?
Amo Português por causa desse professor tão amado!!!
Bravo ,porém perfeito , transparente e sabia ensinar como nunca vi ninguém até hoje como ele ........
ResponderExcluirEm nome do pai do filho e do Espírito Santo.....
Assim ele entrava em sala de aula ...
Quem teve oportunidade de conhece lo , sabe o que estou falando .
UNKNOW... suas palavras também nos emocionam: " Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo ..."Assim ele entrava em sala de aula..."
ExcluirPrezado Professor Nilton: Senti-me emocionada ao ler sua honrosa homenagem referindo-se ao Professor Toledo, ao recordar com detalhes, o seu jeito de ser e o seu amor ao magistério. Fui sua aluna em Rio Pomba e passei pelos mesmos momentos que você mencionou no seu texto. Agradeço-lhe, as belas e inspiradoras lembranças ao meu saudoso esposo, que hoje repousa em paz. Therezinha Chaia Toledo. Transcrevo abaixo, parte de uma reflexão escrita por ele dedicada aos jovens:" O coração do jovem é um reino maravilhoso, fechado por mil fechaduras, que guardam um tesouro de imensurável valor, de preço infinito: a alma".
ResponderExcluirQuerido Professor Nilton!!! Confesso que meus olhos também lacrimejaram com este seu depoimento e com os comentários acima descritos. Minha mãe, Therezinha Chaia Toledo, minha irmã Cristina e meu irmão Hélder já se espelharam "aqui". Eu, Sebastião Márcio Toledo de Miranda, creio também que "assim já o fiz; mas, por não me perceber presente, torno a lhe agradecer pela sua admirável pessoa quando oportunamente lhe comheci.
ResponderExcluirOutro sim, tenho a comentar com vc e com todos "os nossos colegas", que ainda sobre meu querido pai podemos ter dois comentários que achei muito interessante e gracioso:
1°- ...Nosso prof. Toledo, antes de viajar, saindo de nosso apartamento pela 'ultima vez', deve ter tido um "pressentimento", pois deixou escrito com um giz amarelo na lousa que estava na garagem, as suas 'últimas' palavras, que entendo como sendo "a sua oração a Nossa Senhora, "mas desta vez" em latim e em total confidência , lousa esta que se encontra intacta até hoje Nosso memorável professor João Toledo de Miranda escreveu em 03/10/84: "Memento mei et sub praesidio tuae voluntatis confido e cor meum in totum tibi offero. Memorare piissima! "
Traduzindo podemos entender:
"Lembre-se de mim, estou confiante de sua boa vontade e, sob a proteção do meu coração para o Todo, eu ofereço a você. Lembre-se ó piedosíssima! ( ...mais humilde, ...mais simples! ).
Vamos meditar: "Ele" sempre orava com todos, mas, "nesta vez", o fez, com a "Ave Maria mãe de Deus", ...como se pela última vez ... e em total confidência dentre nós.
2°- Nós, nossa mãe e irmãos, conseguimos resgatar algo muito interessante que "ele" deixou e foi marcante na década de 1950: falava durante toda a semana na Rádio de São João Nepomuceno exatamente às 18hs ... "Hora do Ângelus" e todos paravam para ouvir. Assim, intitulamos "este documento resgatado" como: Homenagem Póstuma Ao Professor Roledo
24/06/1917 a 20/11/1984
...corretivo: ... Ao Professor TOLEDO.
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