Se adolescência ainda é superação, na década de 1980 era muito pior. Os anos 80 marcaram uma grande virada política que nos afeta até hoje. Saímos do governo Figueiredo em direção às “diretas já”, para uma decepcionante era Sarney com o insólito tabelamento de preços e a ridícula “Sunab”, para achar no final da década que o Collor caçaria algum marajá e daria o tiro certeiro na onça da inflação sequestrando o dinheiro das pessoas. O que um adolescente normal faz diante isso? UMA BANDA DE ROCK, é claro!!!!!
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Banda Legítima Defesa |
Tá bom... isso é desculpa esfarrapada. Na verdade, o adolescente não se importa com nada disso. Todo adolescente só quer é uma namorada mesmo. E como isso era difícil nos anos 80! Se você não é bonito, e como nenhum adolescente acha que é, você tem que ter um carro. Acontece que isso talvez aconteça só depois dos 18... mas aí já é velho demais. E se além de feio, é pobre, tem que ter consciência política para mudar o mundo! Esquece... isso tudo é muito complicado. Melhor formar UMA BANDA DE ROCK!
O
primeiro passo é se dar conta que você não sabe tocar nenhum instrumento e que
aquele Atari® pode ser trocado por uma
guitarra Tonante usada! Depois é só encontrar, entre os amigos que também não
sabem tocar nenhum instrumento, o resto da banda. Entre amigos dos amigos, voilá,
a primeira formação da banda: um baterista sem bateria, mas com disposição, uma
caixa e um tacho (sim, um tacho), um baixista que preferia a outra banda, um
cantor que a mãe não deixava sair de casa e eu, com uma Tonante e sem nenhuma
caixa amplificada. Até aqui tudo também, ninguém sabia tocar mesmo... Mas,
tínhamos o mais importante: UMA BANDA DE ROCK!!!! E eu, duas ou três palhetas na
carteira.
Agora
já podíamos ir aos ensaios nas bandas de outras garagens e frequentar os
círculos de artistas como nós, mas ainda faltavam as namoradas e aprender a
tocar alguma coisa. Cada um com o seu instrumento, partiu Pró-Música! O desafio
agora era a primeira música, e que desafio! Se colocar quatro pessoas tocando a
mesma música ao mesmo tempo é um desafio até para os profissionais, o melhor é
começar improvisando. Chegamos a imaginar que podíamos ser a próxima revelação
do psicodelismo, mas não, era ignorância mesmo. Mas já tínhamos UMA BANDA DE
ROCK!
Frequentar
o Churraspetos (esse texto não é para menores de 48) impulsionou nossa
carreira. Alí já estávamos entre os grandes astros da cidade! Frúturo Sim, Dois
Cruzeiros de Bala, Dinastia, Ossiação, Patrulha 666, Eminência Parda, até o Tuca
e o pessoal do Profecia e Black Widow apareciam de vez em quando. E toda banda
tem entra e sai e foi numa dessas que uma incorporação fez a diferença: um adulto,
quase. Aí, já sabendo tocar meia dúzia de músicas, hora do primeiro show! Uhhuu!
Agora sim a nossa BANDA DE ROCK decola.
E
foi por uma tragédia dessas que acontece todos verões por causa da chuva, surgiu
uma campanha para arrecadar roupas e alimentos para os desabrigados cariocas. A
Funalfa montou um palco no Parque Halfeld, as bandas foram lá e nós estreamos
em grande estilo em 28 de fevereiro de 1988 tocando músicas próprias!!!! Lembra
que eu disse que não sabíamos tocar? Então, com músicas próprias fica mais
fácil enganar as pessoas, digo, mais fácil enganar nós mesmos. A sensacional
banda Legítima Defesa tinha seu nome estampado em uma nota de 5
centímetros no jornal da cidade, entre as outras. Quais outras? Sei lá... Tínhamos
UMA BANDA DE ROCK, CARA! Você sabe o que é isso!?
Ok,
sabemos que isso tudo servia a um único objetivo: namoradas. E não é que
começaram a aparecer? Uma entre uma ponta no meio da apresentação da banda do
Churraspetos, outra depois de um intervalo da banda do Abaeté, na apresentação
implorada numa exposição em Bicas também rendeu, outras em Rio Pomba, festinha
de aniversário, apresentação desastrosa no Musibairros (isso era ótimo!), até
que um festival em São João Nepomuceno e o começo de um namoro sério, encerra nossa
BANDA DE ROCK.
Juiz
de Fora foi um palco generoso para uma geração que se frequentava por causa da
música. Os pais em geral se preocupavam que isso fosse um ambiente de drogas,
mas esse não era o nosso vício. Apenas evitávamos crescer enquanto agregávamos
valor tentando arrumar uma namorada, afinal, é para isso que servia uma autêntica
e juizforana BANDA DE ROCK!
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