Carrinho de rolimã era coisa de "moleque", assim como bolinha de gude e aquelas rodinhas de tamanhos e materiais variados que os meninos conduziam pelas ruas com arames fazendo manobras incríveis. Já vi gente ousada fazer isso com pneu de verdade! Puxar carrinho com barbante era o brinquedo mais popular. Todo menino quando nascia ganhava uma bola e um carrinho para puxar.
A criatividade humana sempre consegue dar aplicações novas a velhos objetos, seja por necessidade, ou por pura diversão. Rolimã nada mais é que um rolamento de máquinas. Não se sabe quando nem onde, mas a sobra disso em alguma sucata e o espírito criativo de um legítimo moleque, deu à rolimã seu uso mais nobre: o carrinho de rolimã.
E a coisa dá trabalho. O primeiro tem que ter a mão do pai, do tio, de alguém mais velho. Com certeza foi o primeiro experimento de engenharia de muita gente. Tem que ter tábuas, serra, tem que ter pregos e martelo, e o rolimã. Para se atingir o nível da arte, o piloto mirim tem que usar lixas, parafusos, tintas e adesivos. Eis seu próprio Fórmula 1!
No Bairu de 1981, praticamente sem carros, numa bela descida ao lado da Praça da Baleia, com uma curva à direita no fim da praça com área de desaceleração, estavam reunidas as condições perfeitas para a maior corrida de carrinho de rolimãs da Terra! E aconteceu. Parabéns aos pioneiros!
Largada na Rua Comendador Pereira da Silva com a José Spineli, curva perigosa à esquerda descendo a Ribeiro de Abreu, passagem gloriosa ao lado da Praça da Baleia e final épico à direita na Rua Professor Teodoro Coelho.
O que era uma brincadeira de uma ladeira de bairro aqui e outro ali, tomou contornos de coisa séria. O bairro começou a receber pilotos de toda a cidade. Semana a semana, mais carrinhos, mais derrapagens, mais capotamentos, mais vitórias. Até a polícia ficava por perto, para dar um jeito nos carros e garantir a festa.
Fenômeno natural, o espírito competidor humano fez a tecnologia evoluir para carrinhos bi-place, multicoloridos, capacetes, luvas, joelheiras... nunca se viu tanto Bamba e Kichute desgastado. E a multidão vibrava! Nossos dedos, joelhos e cotovelos só viram pele crescer anos mais tarde. Eram apenas casca. Criança de hoje não sabe o que é casca no joelho. Mas tudo que é bom tem um fim.
O fim trágico da mais famosa corrida de carrinhos de rolimã do mundo se deu nas canelas de um espectador idoso, que foi encontrada por um competidor desgovernado. A fratura na tíbia cansada, causada pela juventude veloz, fez o Seu Prefeito mandar parar o Grande Prêmio do Bairu e de todas as ladeiras de Juiz de Fora.
O carrinho de rolimã, que fazia todo menino orgulhoso, se tornou marginal da noite para o dia. As marcas no asfalto permaneceram por algum tempo como registro dos sábados de glória daquelas ruas. Algumas fotos desbotadas sobreviveram e ainda permitem, a alguns poucos daqueles heróis, ostentar seu carrinho de rolimã.
Boa história, carrinho de rolimã era a maior diversão da molecada, andei pela última vez, já tem uns 12 anos.
ResponderExcluirValeu, coloque mais fotos da época.