Se tem uma coisa juizforana, é dizer que em um mesmo dia temos as quatro estações. Por isso, não se pode discutir clima com juizforanos. Somos especialistas em errar previsões. Corre uma certeza entre nós, que nossa cidade amanhece no inverno, segue na primavera até às dez, e já no meio dia até as cinco temos o clima tórrido do verão. Mas as chuvas que marcam o outono chegam no fim da tarde e com sorte, se não tiver pernilongos dividindo a sua cama, pode ser que esfrie.
O juizforano precavido tem um kit de sobrevivência na mochila: uma garrafinha d’água caso faça calor; um guarda-chuva caso chova; uma blusa caso esfrie; e um antialérgico caso a poeira levante. Se a profecia se cumprir, você precisará de tudo isso no mesmo dia.
Mesmo que aqui não seja a Amazônia, em todo verão o juizforano diz que nunca fez tanto calor. Se existe o aquecimento global, o lugar de senti-lo é aqui. E para isso, o remédio é ir para o Calçadão reclamar do calor procurando por alguma modernidade que tenha superado o ventilador, mas que não seja tão cara quanto o ar condicionado. Já ouvi dizer que em certos lugares da cidade onde nem batia Sol, agora bate.
Chuva, nunca se vê igual. As chuvas do ano nunca foram tão fortes ou devastadoras. Um dia ousei dizer a um jovem que já tivemos chuvas muito mais intensas, e narrei a chuva de granizo de 1985. Ele olhou para mim com ares de desconfiança e concluiu: se essa chuva fosse hoje, seria mais forte!
No inverno, em todos os invernos, nunca se fez tanto frio, a não ser que você seja um juizforano idoso. Aí não tem jeito. Faz frio até com quarenta graus. Mas o inverno de Juiz de Fora tem seus caprichos. Se você mora no São Pedro ou no Aeroporto, há relatos que neva até em janeiro, especialmente se o informante chegou do Rio de Janeiro ou de Cataguases e adjacências. Se mora na parte baixa, você será enganado na manhã pela serração baixa e o Sol que racha.
É a amplitude térmica que mais nos açoita. Quem lembra da infância ainda se recorda da moda cebola para ir para a escola. Vestido com cinco blusas e tirando uma a uma, e amarrando tudo na cintura, e tropeçando em tudo, e caindo, e pegando, e no ônibus... ai meu Deus, acho esqueci alguma na escola. Sempre fez muito frio, mas há quem diga que agora tem certos lugares onde batia o Sol, e agora não bate mais.
De junho em diante é tempo seco e queimadas. Já em agosto, excelente oportunidade de empinar papagaio e tratar alergias. Eu teria sido um exímio empinador de pipa caso minha pouca habilidade com papel, cola, bambu e linha juntos não fosse furtada por aquele menino da outra rua, que nunca soube quem é, que teimava em cortar minha pipa com cerol. Alergias se superam, já aquelas pipas...
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Foto: Maurício Regatando o Passado |
Bom, eu estava falando do clima... Um episódio climático daqueles, em 1985 tivemos a mais devastadora chuva de pedras que se tem notícia. Me lembro como se fosse há 35 anos atrás. Uma escuridão repentina fez com que as luzes dos postes se acendessem às quatro horas da tarde! A ventania prometia muita água, e as pessoas no centro agitavam-se em busca de abrigo. Como um castigo bíblico, vimos o céu lapidando Juiz de Fora impiedosamente. As árvores foram podadas aos galhos, os carros enriqueceram os lanterneiros. Mas, se essa chuva fosse hoje...
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Foto: Maurício Resgatando o Passado |
Juiz de fora era vítima de enchentes até a década de 1940, quando uma intervenção no leito do Rio Paraibuna nos poupou de molhar as canelas nos verões. Nossa cidade fica no espraiado natural do rio, o que propiciou, entre cheias e vazantes em milhões de anos, a parte plana da cidade. Se fosse nos dias atuais, as naturais e regulares cheias seriam mais uma incerteza do nosso tradicional “clima doido”.
...mas se alguém tiver notícias daquelas pipas, entre Rio Branco e Renato Dias, já sabe...
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