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Minha primeira namorada

Namorar em Juiz de Fora é coisa séria e se aprende na escola e ganha carteirinha e vou dar nomes. Era final de 1980 e as crianças de 10 anos estavam na primavera dos hormônios. Sem qualquer consciência do que estava acontecendo com o próprio corpo, só sei que de repente aquelas meninas não eram mais tão chatas assim.

Ah Isabela... Sentava-se próximo da minha carteira. Não sei se foi ela, ou eu, mas a tal flecha de Cupido me destinou a sentar na carteira de trás. Entre um lápis que caía e uma borracha emprestada, eu só tinha olhos para ela, esperando olhar de novo para trás. Nem me perguntem o que estava no quadro, não lembro. Eu só pensava em voltar para escola desde o exato momento do fim da aula para perder a respiração de novo. E foi num dia qualquer, e de supetão, que minha mão parada sobre a mesa teve o encontro proposital da mãozinha dela, que com as pontas dos dedos acariciou a minha. Três vezes! Três vezes!!! Não foi por acaso! Três vezes! É claro que tirei a mão de repente, assustado, ofegante, e ela virou depressa para frente. Fim da aula e nunca mais a vi... ela saiu da escola... parece que os pais mudaram da cidade.

Mas, no fim do ano teve excursão para Tiradentes! A minha primeira namorada estava ali, na minha segunda chance. Foi na volta, ao entardecer, que o Alexandre, incontido, sentou-se ao lado da Alcione. Um ônibus inteiro de olhos arregalados quando de repente, eles dão as mãos. OOOHHHHH! As professoras, responsáveis pela nossa educação, e por isso sou eternamente agradecido, fizeram o que tinha que ser feito naquela situação: incentivar que todos arrumassem seus pares! E entoaram músicas e jogos que de pouco em pouco, o troca-troca de assentos já tinha reorganizado o ônibus inteiro. 
Eu recebendo a Primeira Comunhão e a Ivana ali do lado do Alexandre

Meu par foi a Ivana e se não me falha a memória viemos de mãos dadas de Barbacena até a porta do Stella. Que emoção! E isso rendeu. Agora a preocupação das professoras era separar na sala de aula os pares que tinham arrumado no ônibus. Entre broncas e castigos acho que só meu namoro durou. No Natal, meu pai me incentivou a presentear. Comprei uma caixa de Bombons Garoto na nas Lojas Americanas e uma correntinha de bijuteria da loja do Dival na Galeria Constança Valadares. Entreguei e não ganhei o beijo... quem sabe na próxima. 

Nas férias o Rodrigo, meu vizinho, também tinha arrumado a namorada dele, e Dona Nilzinha, mãe compromissada com a vida afetiva do filho único, ajudou nosso primeiro passeio de casais amigos acontecer. Entre telefonemas discados e horários marcados, a agenda era o Cine 180 no Parque Halfeld seguido de sorvete e depois voltar pra casa. Eu e Rodrigo, ambos de banho tomado, roupa nova, cabelo penteado e duas gotas a mais de perfume fomos à rua. Primeiro passamos na casa da Luciana na Rio Branco, namorada do Rodrigo, e depois pegamos a Ivana na Sampaio, e seguimos para o Parque Halfeld. Cada um ao lado da sua companhia, ora de mãos dadas, ora não. 

A grande dúvida era: tentar ou não tentar o beijo. Juro, nunca tinha feito isso, e é assustador quando se tem 10 anos e todo mundo na rua está olhando para você. Entramos no cinema e tentei olhar para a tela, mas só conseguia pensar se todos estavam olhando para mim ou não... claro que estavam. Acabou o filme daquela Montanha Russa que não acabava nunca e acabou minha chance de beijo junto. Agora só na porta da casa dela. Voltamos pelo caminho que viemos, sorvete, mas agora elas na frente e eu e Rodrigo atrás. Cada uma em sua casa, um beijo no rosto... Eu e Rodrigo finalmente podíamos voltar para o futebol de botão e especular o que tinha dado de errado. Mas o gol do galalite azul  foi espetacular e esse era o melhor assunto mesmo... 

No primeiro dia do ano letivo seguinte, a quinta série, eu jogando bola, a Ivana manda recado pela Cristiane: 

_ Nilton, a Ivana mandou dizer que está terminando com você, porque você é muito criança. 

Aí continuei a jogar bola... Sim eu era.

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