“Eu
sou o cavaleiro negro. À procura de um... de-sa-fiiio!” Esse era o canto da sereia,
digo, o chamado do Cavaleiro Negro que hipnotizou milhares de meninos juizforanos!
Os adolescentes na era dos anos 1980, além da música de excelente qualidade que
brotava nas estações de rádio, viam vicejar inovações eletrônicas com luzes,
sons e brilhos que os seduziam: o Fliperama. A história de muito juizforano não
pode ser contada sem antes fazer uma pausa nos botões de Cavaleiro Negro, Shark,
Pac-man, Asteroides, ou mesmo numa mesa de totó.
O
mundo pré vídeo game exigia que o jovem saísse de casa e esvaziasse os bolsos
em troca de fichas. E para isso, valia sacrificar o dinheiro do ônibus, aquele
lanche que você disse que ia fazer na cantina, aquele troco que a mãe deixou
com você. Valia matar aula para isso... tá bom... confesso, valia matar aula quase
por qualquer coisa. O fliperama estava ali, aquele maquinário todo com seu barulho
caótico no centro da cidade, em pleno Calçadão. Impossível resistir, é claro!
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Maquina Cavaleiro Negro |
Perto
dali se reuniam os metaleiros em frente ao Central, como o Tuca, o pessoal do
Black Widow, Patrulha 666 (sim originalmente era 666 e depois tiraram um 6) e
todos os que pretendiam fazer sucesso nos palcos do rock. Ou seja, em poucos
metros quadrados da cidade tinha gente esquisita, lanchonetes e fliperama. Tudo
o que era necessário.
Embora, mesmo na Halfeld abaixo da Getúlio, tivesse o fliperama do "Chefinho", o "Diversões Eletrônicas" do Natalino era o melhor. Nas malandragens do ofício, o Chefinho era mestre em tornar os jogos mais difíceis. A ficha era mais barata, mas seu tempo de jogo era menor. Quanto mais experts se tornavam os jogadores, maior a dificuldade ou controles "batizados". Tanto é que após a era do fliperama muitos gamers daqui se referiam como "nível chefinho" para os mais níveis difíceis dos jogos em geral.
Existiam quatro tipos de pessoas que iam lá: os viciados
nos jogos de fliper, os viciados em jogos de vídeo, os viciados em totó e os
que, como eu, eram viciados em todos eles.
A
vantagem de matar aula para jogar fliperama é que as máquinas estavam vazias e assim
você não precisaria enfrentar fila. E nada mais aviltante que algum filhinho de
papai com os bolsos cheios de fichas... malditos! Melhor jogar em outra. Isso
dava até briga. Qualquer coisa dava briga. A parte da tarde era um inferno. Uma
fila de office-boys que deveriam estar na fila do banco, atrasando o serviço no
fliperama.
_ Sintam-se
denunciados aqui, coroas! (eu, heim... disse em voz alta quando digitei isso)
Também
era um ambiente de apostas, especialmente no totó. Ali já se perderam guaranás e
relógios! E como eram preciosos os relógios nos anos 80... mas, a busca pela
glória ou revanche levava todos de volta até acabar o dinheiro do lanche do dia
seguinte.
E
todo ambiente de vício tem sexo, drogas e rock and roll. O rock ficava
do lado de fora, mas todos sabiam que estavam disponíveis outros produtos e
demandas ali. Afinal, o que você pensa que queria aquele senhor grisalho ao oferecer fichas? E por que tanta batida policial que volta e meia tirava um de
lá de dentro? Eu só não via por que os olhos grudados na tela não se importavam,
e um mês ou dois, eu acho que o carinha voltava. Acreditem, passei ileso por isso tudo,
menos pelo rock.
Em Juiz de Fora os fliperamas resistiram ao Atari, mas não ao Megadrive. Decaíram como diversões e se tornaram tão marginais quanto ao que circundava. Hoje, mal se vê um registro fotográfico. Mas, o fascínio de controlar aquela bola de metal brilhante sob um vidro, em uma palheta controlada com o dedo num botão impreciso, a lançando através de uma placa de madeira ricamente iluminada com um monte de luzinhas para ascender, e lançá-la certeira para derrubar a última bandeira, para conquistar a bola extra ou o glorioso crédito, não tem preço. Ainda vale mais que uma ficha!
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Isso é uma ficha de fliperama! |
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