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Foto: Maria do Resguardo |
De uma noite para o dia em um agosto de 1977, King Kong, o maior ator macaco de todos os tempos, estava visitando a terra de Santo Antônio do Paraibuna onde tudo tende a um fim pouco honroso, mas guardamos na tradição como glórias locais. O maior ator primata de Hollywood estava fincado no Parque Halfeld. Era um gigantesco bicho de pelúcia! Que fofo!
A cada filme lançado nos cinemas,
o mercado editorial colocava um pequeno exército de pessoas na frente das
escolas distribuindo gratuitamente álbuns de figurinhas com um pacotinho
dentro, e eram cinco figurinhas! A jogada de marketing causava um alvoroço na
saída do colégio com aquela turba infantil excitadíssima com o presente de grego
que acabaram de dar às mães. Óbvio que todas as crianças reivindicavam ir às
bancas quase diariamente comprar mais pacotinhos para preencher o álbum. Cada
pacotinho uma emoção... Droga! Repetida! Bom, talvez isso se resolva trocando
figurinhas ou comprando mais pacotinhos.
Conto essa história de crianças porque
o meu primeiro, de vários álbuns incompletos, foi desse fantástico ator, o King
Kong, que estava imóvel no centro de Juiz de Fora. Vocês não acreditam, mas era
Ele! Claro que não era pelúcia alguma! Aguardávamos por algum movimento, algum
respiro ou suspiro. Eu mesmo o vi piscar os olhos mais de uma vez! Juro!
Em um tempo de poucas atrações,
as poucas atrações eram grandes atrações. Uma sala de cinema como a do Cine Excelsior
com suas 1250 poltronas era pequena para toda Juiz de Fora. Mas a cidade não se
rendia ao “pouco” espaço de uma sala única, e se revezava entre uma seção e
outra. Nem me lembre dos espertinhos que ficavam para ver uma segunda vez, ocupando
espaço... que tipo de gente faz isso? Tá bom... eu fiz também...
Lá estava eu! Meu quase um metro
e meio de gente, com a mão dada ao meu pai para não me perder entre a multidão
de pernas em minha volta, subindo a rampa acarpetada do cinema em direção a uma
espaçosa poltrona, com uma caixinha de Mentex na mão. Entrei para ver um macaco
gigante e saí apaixonado por uma loira seminua, a Jessica Lange. Meus sete anos
não foram obstáculo para entender que o amor do macaco do Parque Halfeld era
sincero, verdadeiro e valia a pena arriscar toneladas de banana por ela. Aquele
banho de cachoeira... King Kong representou bem o papel masculino de um goiano.
Foi feito de bobo, na verdade ela gostava do outro cara, acabou sendo usado no
show business para ela fazer uma grana, ficou puto, perdeu a cabeça e acabou
caindo do World Trade Center. Que atuação, senhoras e senhores! Que atuação!
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Cine Excelsior |
Embalado pelo sucesso, esse grande ator ainda atuou jogando um osso para o alto em “2001 uma Odisseia no Espaço”, como General Urco em o “Planeta dos Macacos” (grande atuação!) e destaque para o drama romântico em “A Montanha dos Gorilas” (com outra loira!). Mas, nem tudo é glória. Vida de artista é uma caixinha de surpresas. O vício e investimentos ruins levaram nosso ator a um fim de carreira decadente fazendo aparições anônimas em parques de diversão, como a versão macaco daquelas moças de biquini no trailer da Conga, a mulher gorila.
Em Juiz de Fora, naquele mesmo
ano de 1977, a linda pelúcia de King Kong, na representação de seu auge, foi
criminosamente incendiada por um boboca anônimo, que buscava alguma fama, como também aconteceu anos depois com John Lennon. Tenho um amigo que conheceu o irmão do
boboca que reivindicou a autoria do atentado juizforano e disse que era um boboca mesmo. E
por causa de bobocas desse tipo em diferentes intensidades, nem as imponentes
torres gêmeas do World Trade Center, que serviram de locação para a cena
apoteótica do sofrimento do macaco apaixonado e traído, também não existem mais.
Viram? Juiz de Fora e Nova Iorque têm muito em comum.
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