A dura expressão "equipamentos urbanos" não traz a leveza desse conjunto arquitetônico de 1964, que está pousado sobre o Morro do Cristo. Que delícia as tardes de domingo, subir até o mirante para apreciar a cidade, buscar minha casa, quem sabe uma refeição no badalado Restaurante do Mirante, e com sorte assistir algum programa ao vivo da TV Industrial com Wilson Simonal.
Isso não volta, é claro, mas o patrimônio está ali. Dificilmente alguém tece elogios à Prefeitura, mas aqui vai o meu. O tombamento do prédio da TV Industrial em março de 2019 veio antes que fosse tarde. O prédio em forma helicoidal projetado pelo arquiteto Armando Favatto, que desde ano passado denomina oficialmente o prédio, é uma joia da arquitetura. Simbolicamente, sua forma propaga a ideia que a comunicação é uma onda que vai do zero ao infinito.
Mas faltam duas coisas, uma muito simples. A primeira, que não é simples, é restaurar a estrutura metálica da antena que foi covardemente demolida pela, então, proprietária em 1980, a Rede Globo. Ao invés de dar a manutenção e reparos, a empresa de Roberto Marinho colocou-a no chão. Diga-se que não fez nada de ilegal, mas foi um ato de brutalidade e falta de sensibilidade com um elo de identidade de nossa cidade. Deixo aqui meu protesto.
A segunda coisa, essa sim, é simples: devolver ao povo. Um pequeno arranjo de regulamentos pode ser uma fonte da juventude para esse prédio e todo o entorno. Centenas de boas ideias estão disponíveis para ressuscitar o Cristo, digo o Morro do Cristo. O restaurante do mirante que recebia tanta gente para ver as luzes da cidade se ascendendo no final da tarde, o reveillon animado, o almoço da família, ou simplesmente o sorvete Kibon na varanda. Quantos empresários não se disporiam a explorar a área?
A reativação econômica do lugar pode fazer brotar as fontes de financiamento, para trazer de volta o ícone de progresso. Havia um sonho antigo para um "bondinho" que levaria as pessoas do centro ao alto do Morro, que fora iniciada por promessa de um pai que jurou concluir a obra se a filha encontrasse a cura, mas infelizmente ela faleceu. Há corte em pedras e uma trilha que ainda testemunham a história.
A atitude para transformar o prédio da TV Industrial num espaço cultural, ou em um museu de arte, ou de áudio visual, ou quem sabe um território do acervo de João Carriço, terá que esperar até que a deterioração torne qualquer projeto inviável? Tornar esse conjunto em um centro de interesse turístico é uma corrida contra o tempo e contra as intempéries. Precisamos apenas de coragem.
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